Editorial

Tempo e decisões

Embora não tenhamos vivido as cenas de terror que vimos em outras cidades gaúchas, completamente desoladas pelas enchentes do último mês, fato é que Pelotas teve em maio o principal fato histórico deste século - atrás apenas da pandemia de Covid-19, compartilhada globalmente. Desta vez, o acontecimento histórico veio com um privilégio que outras cidades não tiveram: tempo hábil para prevenção e para salvar vidas.

No entanto, não poderemos contar com esse privilégio sempre. Acontecerão outros eventos climáticos, de igual ou maior proporção, no futuro. Já não é uma questão de "se", e sim de "quando". Agora, os efeitos das mudanças climáticas não são mais algo que vemos só pela televisão. As catástrofes ambientais nem sempre batem à porta, como vimos, elas podem vir de uma vez só, deixando um enorme rastro de destruição.

Quis o acaso que a maior tragédia da história gaúcha acontecesse justamente em um ano de eleições municipais, em que os problemas da vida real das comunidades entram em debate, ou ao menos deveriam. Temos, então, a oportunidade de discutir o futuro que queremos para as nossas cidades. Ficaremos reféns das próximas tempestades e enchentes ou ouviremos a ciência para discutir com maturidade e tomar decisões sérias para cessarmos os danos ambientais e nos protegermos das próximas tragédias?

Pode parecer que o tempo entrou em suspenso ao longo deste maio sombrio, mas a pouco mais de quatro meses das eleições, a política segue se movimentando nos bastidores, e os candidatíssimos continuam fazendo de tudo para aparecer nas redes sociais. Os próximos meses serão de campanha eleitoral e promessas de toda sorte. Precisamos, como sociedade, assumir o compromisso de cobrar seriedade dos pretensos prefeitos e vereadores na pauta ambiental.

Tivemos a sorte de as estruturas de contenção terem impedido uma destruição ainda maior e de a gestão municipal ouvir os cientistas e tirar pessoas de áreas de risco, mas até quando iremos contar com um dique de mais de 50 anos? E se as casas de bombas não funcionassem, como não funcionaram em Porto Alegre? E se a partir de 1º de janeiro de 2025 o prefeito não tiver o tempo e a sabedoria que se teve agora?

Agora, não precisamos mais olhar a televisão para vermos tragédias climáticas, basta olharmos pela janela. É a hora de tomarmos atitude não só para o momento, mas para o futuro.

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